domingo, 6 de julho de 2014

Transcendência – A Revolução

Eu costumava trabalhar para Thomas Casey. Estagiei para ele. Um certo dia ele convidou todos nós para ir ao laboratório. Fez todo um discurso sobre História, serviu champanhe a todos como se houvesse encontrado a cura para o câncer. E sabe... quando ele fez o upload daquele macaco fiquei feliz por ele, todos ficamos. E então percebemos que tínhamos passado dos limites. A máquina que acreditou ser um macaco nunca respirou, nunca comeu, nunca dormiu. Só gritava, implorava para que parássemos, para desliga-la. (Bree)


Confesso que desde a “leitura” dos filmes Matrix que não havia me surpreendido tanto com um longa de ficção científica quanto com Transcendência. Estrelado por Johnny Depp, vivendo Dr. Will Caster, e dirigido por Wally Pfister esta obra tem o que há de melhor em filmes desta natureza: a possibilidade de conexões com diversas áreas do conhecimento (filosofia, ética, política, teologia, biologia, etc.) e a leve chance de acordarmos um dia e nos vermos mergulhados em um mundo como aquele apresentado na telona.

Na trama uma linha limítrofe fora superada, não há mais corpo físico que mantenha o homem aprisionado a inevitável e esperada morte. Basta fazer um upload e, agora sim, viver em rede. E ainda há mais: a possibilidade de controlar a natureza! Como disse Max Waters (Paul Bettany):  “... no próximo verão já não existira mais a vida orgânica primitiva na terra ... ”. Extrapola o apenas viver em rede, é apropriar-se do conhecimento lá armazenado e usá-lo, para o bem ou para o mal.

E o mais interessante é que o encadeamento de acontecimentos que se sucedem no filme nada mais é do que o fruto da vontade humana de planejar, organizar, enquadrar, “avançar a níveis superiores... e construir um futuro melhor para todos”, como disse Evelyn,  cientista e esposa do Dr. Will Caster. Ou seja, tornar o mundo mais humanizado é, segundo o filme, e de modo irônico, também torna-lo menos humano.

Infelizmente a crítica "especializada" não aliviou o longa. Nem o roteiro, nem Johnny Depp, ou o consagrado Morgan Freeman, sequer Cillian Murphy que quase não participou saiu ileso, e quase crucificaram o diretor Wally Pfister. Enfim, definitivamente ninguém foi perdoado. Parece até que antes de escreverem saíram lendo as críticas um dos outros, quase um “copia e cola” generalizado! 

Tudo bem, mesmo que existam furos aqui e ali, clichês (afinal, como se sabe, inteligência artificial não é novidade no cinema), ainda assim, diante do conteúdo trazido pela obra, quem é que precisa de mais ação, estrelismos, etc.? O que desperta atenção e merece ser observado é o debate entre a ciência o homem e seus limites. E isto foi apresentado de maneira bem apropriada. E ainda tendo como pano de fundo uma estória de amor, ora!

Entre os melhores filmes do ano, com certeza!


Título original: (Transcendence )
Lançamento: 2014, (EUA)
Direção: Wally Pfister
Atores: Johnny Depp, Rebecca Hall, Morgan Freeman, Paul Bettany, Cillian Murphy, Kate Mara, Cole Hauser, Clifton Collins Jr.
Duração: 119 min.

Gênero: Ficção Científica

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Duque: Uma Noite de Crime e O Conselheiro do Crime

"Esta noite permite que as pessoas libertem todo ódio e violência que elas têm dentro de si (...) Será uma noite tranquila como as demais.” (James Sandin – Uma Noite de Crimes) 


Certa vez um professor durante a palestra de lançamento de sua obra literária disse que escrever um livro é como desfilar nu. Mostrar suas intimidades para serem analisadas, comentadas e julgadas. Talvez, dependendo do que se está escrevendo, o professor tenha razão, sim. 

É por isso que neste instante tenho a ousadia de anunciar que tirarei mais uma peça de roupa. Este é o post de inauguração de uma coluna especial. Nela farei alguns comentários acerca de dois filmes. Ou seja, longas que tenham algum link que os interliguem, mesmo que aparentemente possam tratar de temas bem distintos. Afinal, o interessante em filmes, obras literárias e arte em geral é saborear nossas impressões sobre elas. 

Na medida do possível serão textos breves, como os demais do blog. Um pouco mais dos cinco parágrafos habituais, pois assim não dá tempo do leitor cansar. 

Inauguram a coluna dois filmes recentes: Uma Noite de Crime, dirigido e roteirizado por James Demonaco (Assalto a 13° DP), lançado em 2013. Na outra margem temos O Conselheiro do Crime, dirigido pelo bom Ridley Scott (Gladiador; Hannibal) e roteirizado por Cormac McCarthy (Onde os Fracos Não Têm Vez). 

Se um freqüentador das ainda relutantes locadoras de vídeos se deparasse com os cartazes destes dois filmes, e pensativo sobre qual escolher, fosse convencido pelo peso do elenco e do diretor do filme O Conselheiro do Crime, com certeza não seria uma má escolha, afinal, das duas ainda é a obra mais refinada, mesmo que possua um roteiro considerado lento para a maioria dos cinéfilos. Porém, se Uma Noite de Crime perde no brilho das suas estrelas e no refinamento da obra, por outro lado oferece ao seu espectador uma dose maior de ação. 

Os Novos Fundadores conseguiram reduzir a quase zero a violência nos Estados Unidos, é uma nação livre da violência, do perigo que rondavam às ruas, até a economia melhorou, entretanto foi necessário pagar um preço. Para liberar o impulso de violência natural a todo ser humano, um único dia do ano foi destinado ao livre cometimento de qualquer tipo de crime. Neste dia as pessoas estarim livres para roubar, estuprar e, principalmente, matar quem quer que fosse, inclusive aquele vizinho chato, o chefe irritante ou aquele mendigo da esquina que desvaloriza o bairro. Este é o mote inicial do filme Uma Noite de Crime, que conta com Ethan Hawke, interpretando o pai de família James Sandin, claro defensor daquele que é chamado de O dia da purificação. Aliás, como vendedor de equipamentos de segurança é um dos beneficiados desta política dos Novos Fundadores. Sandin aprova, mas não participa do Dia da purificação, prefere proteger sua esposa e seus dois filhos adolescentes em sua fortificada casa, pelo menos esta era a intenção. Pois não contava com os gritos desesperados do personagem interpretado por Edwin Hodge, nem com o sentimento de compaixão do seu filho Charlie Sandins (Max Burkholder) muito menos com a ira desenfreada dos purificadores

Não é apenas a violência exagerada que se destaca neste filme, mas os elementos discursivos que o complementam: a percepção da violência como não apenas algo inato ao ser humano mas como uma força controlável, a ponto de restringi-la à apenas um dia do ano; a tradicional ou estereotipada família norte americana; o apego às armas e ao estilo de vida yankee; o racismo que, aparentemente, seria o único elemento que impulsionava o grupo de brancos ansiosos para purificar aquele homem negro; e, talvez, a característica mais marcante, que é o forte controle estatal e social. Semelhantes a relógios, aqueles pacatos cidadãos aguardavam ansiosamente pela ordem do governo para cometerem seus crimes livremente e, com a mesma precisão, encerram a carnificina e retornam a sua normalidade angustiante, contando os mortos nas ruas, enquanto assistem o noticiário ou seguem tranquilamente para mais um dia normal de trabalho. Um descontrole controlado. 

Na outra margem, ou melhor, na outra sala de exibição Ridley Scott nos apresenta, assim como James Demonaco, outraa desordem, porém sensivelmente controlada. Diferentemente do contexto anterior, no qual existiam forças governamentais que controlavam o tempo e o lugar da violência, aqui o controle está à mercê das paixões e das falhas humanas. A exceção lá é a regra aqui. Estes personagens não vivem tranquilamente todo ano aguardando por um dia de violência, transitam a todo instante entre traficantes, matadores profissionais e sofisticados, que fazem desta rotina seu ofício diário. Entre aqueles indivíduos paira a desconcertante ausência de controle, a instabilidade! Por exemplo, Michael Fassbender é um advogado que tem muito a perder, mas, para desconforto do espectador, demora para se dar conta disso. E suas idas e vinda em meio àquelas negociatas e arrependimentos nos dizem que ali reside o imprevisível. Quem sabe gostaria o advogado de viver lá em Uma Noite de Crime, pois saberia que ao raiar do dia sua angustia teria fim. 

Da raiva cinicamente controlada em Uma Noite de Crime, a não menos perigosa violência descontrolada, iminente e previsível de O Conselheiros do Crime, qualquer que seja sua escolha, será bem feita, e se forem combinadas será ainda melhor. 


“Se continuar neste caminho um dia fará decisões morais que o surpreenderão” (Reiner – O Conselheiro do Crime)

                                     


Título original: (The Purge)                                                  Título original: (The Conselor).                     
Lançamento: 2013, (EUA)                                                  Lançamento: 2013, (EUA).
Direção: James DeMonaco                                                 Direção: Ridley Scott.    
Atores: E. Hawke, L. Headey,                                            Atores: M. Fassbender, J. Bardem.  M. Burkholder, A. Bareikis,                                               P. Cruz, Brad Pitt, R. Perez.  
A. Kane, E. Hodge, T. Oller,                                              C. Diaz.
Duração: 85 min.                                                                 Duração: 117 min.
Gênero: Terror                                                                    Gênero: Suspense.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Flores Raras

- Eu quero que você fique aqui. (Lota)
- Mas e a Mary? (Bishop)


Bruno Barreto, o diretor, nos apresenta boas doses de poesia, belas atuações e uma leve e sarcástica crítica a reação popular ao Golpe Militar de 64. Baseado em fatos reais, o filme revela a breve passagem pelo Brasil da renomada poetiza norte-americana Elizabeth Bishop, a convite da amiga de juventude. A adaptação ao clima, alimentos e cultura não foi fácil, mas passada a crise inicial, não tardaria àquela amante das letras, apaixonar-se pelo Brasil, aliás, não só pelo Brasil. 

É uma trama amorosa que gira em torno de três personagens: Lota (Glória Pires), Elizabeth Bishop (Miranda Otto) e Mary (Tracy Middendorf). Nelas encontramos os elementos presentes em quase toda história de amor: paixão, conquista, concessão, ciúmes, domínio, alegrias, tristeza... 

Além disso, é possível destacar ainda três elementos imperdíveis no filme: o primeiro é evolução de Lota, a personagem de Glória Pires: suas primeiras aparições nos fazem perceber imediatamente uma mulher que não foge ao trabalho braçal, prática, quase bruta, ao mesmo tempo em que demonstra intensa intimidade com a arte. O que interliga a Lota das primeiras cenas, quase irreconhecível frente àquela que surge nas últimas cenas, quem sabe seja o amor ou a paixão. 

A poesia de Bishop, por sua vez, é um convite, um componente imprescindível para a construção da atmosfera que envolve as três personagens, e suas distintas personalidades: 

(...)

A arte de perder não é nenhum mistério. 
Perdi duas cidades lindas. E um império 
Que era meu, dois rios, e mais um continente. 
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério

(...)
One Art (Tradução de Paulo Henriques Brito)

Por fim, o terceiro elemento surge de forma mais tímida. O período politicamente conturbado da década de 60 também é percebido pela poetiza, mesmo que por meio de um grande estranhamento. Relata a Bishop: “Quando Kennedy foi assassinato, nós (o povo norte-americano) sofremos. Vocês tiveram um Golpe Militar, que lhes tirou a liberdade, e foram jogar futebol na praia. Eu vi da janela”. Seria apenas um limitado olhar estrangeiro ou alguém que aponta o frequente teatro da participação política da população nos momentos importantes da História do país?

Flores Raras: amor, política e diferenças culturais trazidos a tona por duas excelentes atrizes.


Título original: (Flores Raras)
Lançamento: 2013, (Brasil)
Direção: Bruno Barreto
Atores: Glória Pires, Miranda Otto, Tracy Middendorf, Marcello Airoldi, Treat Williams, Lola Kirke
Duração: 118 min.
Gênero: Drama.

domingo, 6 de outubro de 2013

Elysium


“Vou precisar de alguém para fazer um trabalho pra mim (...) pegue um babaca de Elysium, sequestramos ele, esquece o carro, esquece a grana, o relógio, o que você vai pegar é informação ... orgânica, direto da cabeça dele...” ( Spider)

Edward Snodem, Julian Assenge e quem sabe Kim Schmitz (dono do site Megaupload) possuem em comum, entre outras coisas, o fato de cometerem “crimes” relacionados a este novo mundo tecnológico-informativo. E, claro, resolveram enfrentar Estados e corporações muito poderosas, independentemente de quais foram seus verdadeiros motivos (econômicos, políticos, ideológicos, etc). Estas três figuras, que um dia poderão figurar nos livros de História, seja como heróis ou terroristas, para mim, estão muito próximos do personagem Spider (Wagner Moura). 

Spider, ao contrário de Max (Matt Damon) ou Frei (Alice Braga), parecia não ter interesses pessoais em jogo quando subia naquelas naves aparentemente arcaicas frente ao poderio dos administradores da estação espacial Elisyum. Quem sabe estivesse agindo por um ideal, uma espécie de herói-hacker-libertário. Mesmo que não seja possível fazer esta interpretação a partir de suas falas: superficiais e muito pouco aproveitadas. Por outro lado, exigir uma maior fundamentação político-filosófica deste personagem talvez seja exagero, principalmente em se tratando de um filme apenas comercial e de um papel que seria representado por um desconhecido latino-americano. É esperar demais de Hollywood!

E, além da possibilidade perdida de explorar um personagem, o filme Elysium nos traz também um pouco do mesmo de sempre: em um futuro não tão distante (ano de 2159) a situação social do planeta é tão caótica que uma certa elite resolveu construir uma estação espacial com todas as regalias possíveis, para quem pode pagar, é claro. Enquanto isso, aqui, na Terra, a população pobre (que fala espanhol, diga se de passagem) sofre com abuso de autoridade da força policial, burocracia do serviço público e com a exploração desmedida nas fábricas. 

Elysium, ao ser visto no céu do planeta Terra, poderia ser apenas um sonho de consumo para alguns, ás vezes cultivado desde a infância, mas para outros era questão de sobrevivência, pois ela possui a tecnologia necessária para curar quase todas as perigosas doenças que conhecemos. E este já era um forte motivo que justificaria arriscar a vida para tentar invadir aquela estação espacial com tanta vontade e esperança. Outros tentam invadi-lá simplesmente porque não achavam justo toda aquela desigualdade social.

Alguns comentaristas da blogosfera dizem, e com razão, que os roteiristas não precisariam usar o subterfúgio de apontar aquela realidade para o distante ano de 2159, pois os fatos e condições mostradas na telona são facilmente encontrados nos anos atuais. O cenário, por exemplo, não precisou ser montado artificialmente, bastou filmar as favelas de muitos países. 

Elysium é um filme pouco ambicioso, mas nos oferece interessantes brechas para a reflexão, que, aliás, é uma características dos longas de Neil Blomkamp, que também dirigiu o bom Distrito 9


Título original: ( Elysium )
Lançamento: 2013, (EUA)
Direção: Neil Blomkamp
Atores: Matt Damon, Jodie Foster, Sharlto Copley, Wagner Moura, Alice Braga
Duração: 109 min.
Gênero: Ação

sábado, 24 de agosto de 2013

O Grande Gatsby

“Apenas um homem não me enjoava.” (...) “ele era a pessoa mais otimista que eu já conheci. E, na certa, jamais voltarei a conhecer. Havia alguma coisa nele, uma sensibilidade. Ele era como uma dessas máquinas que registram terremotos a 16.000 km” (Sr. Carraway).


As adaptações carregam consigo uma grande sina: não conseguir acompanhar a dramaticidade, a estética e a beleza da obra original. A pesar de todos os recursos visuais que o cinema possui, ainda assim, o esforço realizado pelo cérebro durante a leitura para a construção dos cenários, dos personagens, dos diálogos  são capazes de conquistar muito mais o leitor do que o espectador. Já foram quatro adaptações do clássico livro homônimo de Francis Scott key Fitzgerald (1996-1940), porém as críticas e insatisfações ainda se sucedem. Talvez este seja o destino das adaptações: quanto mais fãs tiver o livro, maior o risco da obra cinematográfica não agradar. 

Aprecio as adaptações, pois elas permitem aos roteiristas o aproveitamento da riqueza dos personagens e dramas contidos no livro, claro que ás vezes se perdem em uma trama confusa ou más interpretações da obra. Como exemplos de boas adaptações recordo neste instante de: Um Sonho de Liberdade, A Espera de Um Milagre, O Império do Sol, Trainspotting, O Senhor dos Anéis, 1984, O Nome da Rosa, O Poderoso Chefão, entre muitos outros. Todos estes são filmes que extrapolam os dramas de cada personagem, nos interligam a outras atmosferas, produzem links.

O Grande Gatsby, por sua vez, não é só uma história de amor - correspondido ou não - mas de encontros e desencontros tecidos maliciosamente pelo destino. É uma obra que nos apresenta a sociedade norte-americana efervescente da década de vinte, uma convulsão econômica que multiplicava os novos e ostentosos ricos, mesmo que, do outro lado do Oceano Atlântico a Europa rugisse de fome e destruição, consequência da terrível Grande Guerra. Os ianques se divertiam nas estrondosas festas de modo que pareciam adivinhar que alguns anos mais tarde se afundariam na maior crise econômica da História. 

O anfitrião destas festas, Jay Gatsby (Leonardo Dicaprio), era um homem misterioso. O pouco que se sabia dele era por conta dos encontros regados a bebidas e músicas que deixavam os artistas e boêmios da cidade de Nova Iorque entusiasmados e eufóricos. Mais misteriosa ainda foi a sua aproximação ao pacato Nick Carraway (o inconfundível, Tobey Maguire). Afinal, por que aquele milionário excêntrico despertaria interesse pelo seu indiferente e jovem vizinho? Quem sabe a resposta estivesse do outro lado da cidade. É que Nick era primo de Daisy Buchanam (Carey Mulligan), casada com Tom Buchanan (Joel Edgerton), um membro típico das famílias tradicionais que detestavam estes novos e inconvenientes ricos. Claro que Gatsby e Daisy ainda tinham assuntos inacabados.

Estes quatro personagens, e mais um mecânico e sua sonhadora esposa, nos apresentarão amostras de uma sociedade marcada por uma alegria entusiasmante, mas também por moralidades e preconceitos baseados no status. E, mesmo que o amor seja o elemento que interligue estes personagens, infelizmente, nem sempre a relação entre eles será amorosa. 

                                                   

Título original: (The Great Gatsby)
Lançamento: 2013, (EUA, Austrália)
Direção: Baz Luhrmann
Atores: Amitabh Bachchan, Jason Clarke, Elisabeth Debicki, Leonardo DiCaprio, Joe Edgerton, Isla Fisher, Tobey Maguire, Carey Mulligan
Duração: 142 min.
Gênero: Drama

sábado, 17 de agosto de 2013

Sem Dor, Sem Ganho

“porque se você está disposto a trabalhar você faz qualquer coisa, isto é o que faz os Estados Unidos serem o máximo. Quando o país começou, ele era só um punhado de colunas mirradas, agora ele é o país mais forte e mais desenvolvido do planeta. Isso é muito maneiro. A maioria diz que quer ficar bem, mas nem todo mundo está disposto a fazer o que for possível para conseguir. Meus heróis se fizeram por sí próprio, Rocky, Scarface, os caras do Poderoso Chefão, todos eles começaram do nada e conseguiram atingir a perfeição. Você só atinge o seu melhor quando ultrapassa seus limites, esse é o sonho americano” (Daniel Lugo)


Se uma coisa ficou evidente neste filme é que quanto mais idiota o indivíduo, mais próximo ele está do azar. Dizem por aí que o homem médio americano é aquele dotado de pouco raciocínio crítico, facilmente manipulável, que segue mais facilmente os discursos e preconceitos predominantes. Se isto for verdade, Daniel Lugo (Mark Wahlberg), Adrian Doorbal (Anthony Mackie) e Paul Doyle (Dwayne Johnson), são os típicos homens médios americanos. 

Baseado em uma história real ocorrida em meados da década de noventa, o filme nos traz a breve trajetória de três instrutores de academia cansados de apenas ajudar a formar os belos corpos da sua clientela. Cientes que a América é a terra da oportunidade - pelo menos para quem é vencedor – irão fazer de tudo para ter o direito de aparar a grama do seu jardim montado em um potente e seleto snapper 342. Afinal, ninguém quer ser um perdedor, claro.

O plano exigia três etapas: encontrar alguém rico; tirar-lhe todos os seus bens; e, tornar a América um lugar melhor, eliminando este infeliz. O mais interessante no filme não são as atrapalhadas do trio para pôr em prática seus planos, mas sim a fé de cada um. O porquê cada um daqueles não tão sábios homens faziam aquilo tudo. E olhe que não são aqueles personagens idiotas estereotipados de filmes como Debi e Lóide.

Daniel Lugo quer ser um vencedor, circular entre os ricos ser como eles. Adrian Doorbal não tem muita ambição, apenas ter um corpo musculoso, usar seus esteroides, ter virilidade e uma esposa. Mesmo que nem todos estes desejos sejam conciliáveis, mas talvez ele não saiba disso. Paul Doyle é o mais incógnito, recém saído da prisão, busca o equilíbrio por meio da religião, logo, está sempre em conflito consigo mesmo, pois suas ações não são nada religiosas, principalmente o vício em drogas. 

A descrição dos personagens seria um exercício interessante, porém, infelizmente, entregaria o filme. Por isso, não me atreverei a falar das vítimas. Tampouco comentar sobre as idas e vindas do trio para tentar ganhar, sem dor. Aproveitem o filme e se não irão morrer de ri, pelo menos ficarão surpresos com tanta, digamos, leviandade.

Se eu acredito que mereço, o universo tem meu endereço!


Título original: (Pain and Gain)
Lançamento: 2013, (EUA)
Direção: Michael Bay
Atores: Mark Wahlberg, Anthony Mackie, Dwayne Johnson, Rebel Wilson, Ed Harris, ken Jeong, Rob Corddry, Tony Shalhoub, Kurt Angle.
Duração: 129 min.
Gênero: Comédia

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Os Miseráveis

Como vai você? Meu nome é Gavroche
Esses são meu povo, aqui é meu território
Nada demais pra olhar, nada elegante
Nada que você possa admirar
Essa é minha escola, minha alta sociedade
Aqui nas favelas de Saint Michele
Vivemos das migalhas dos que sentem pena
É uma vida dura, mas quem se importa?
Acha que você é pobre?
Acha que você é livre?
Siga-me, siga-me!  ( Música Look Down – the Beggars)


Assisti uma quantidade razoável de filmes nestes últimos dias, agraciado pelas férias tive tempo para por a “leitura cinematográfica” em dia. Porém, por incrível que pareça, não consegui angariar estímulo para escrever nada por aqui. E olhe que foram filmes interessantes, como o “Vôo”, com o ótimo desempenho de Denzel Washington. Fiquei comovido com Annie (Liana Liberato) em “Confiar”, alegrei-me com a comédia suave de Wood Allen: “Para Roma com Amor”. Sem mencionar os menos cotados, como “João e Maria: Caçadores de Bruxa” e “Meu namorado é um Zumbi”.

Mas foi o musical dirigido por Tom Hooper (premiado com o "Discurso do Rei") que finalmente trouxe de volta o caminho para o blog. Nada melhor do que um belo filme, que seja capaz de nos emocionar plenamente, que nos leve às lágrimas e ao sorriso. Assim é “Os Miseráveis”, uma ótima adaptação do clássico da literatura, escrito por Victor Hugo (1802-1885).

Descontadas as devidas ressalvas e críticas a alguns atores, que não empolgaram tanto assim na cantoria, não há o que reclamar do longa. Personagens muito bem caracterizados, que trazem consigo o peso dos seus valores, ou fervor dos seus desejos, a beleza de suas convicções. Elementos que constroem e reconstroem seus destinos.

Do cumprimento e cego e respeito a lei, representado na figura do imbatível inspetor Javert (Russell Crowe); da reconciliação do até então conflituoso Jean Valjean (Hugh Jackman); do amor imensurável de Fantine (Anne Hathaway) por sua filha; da paixão de Cosette (Amanda Seyfried) e Eponine (Samantha Barks) ou do revolucionário Marius (Eddie Redmayne). Sem mencionar o senso de sobrevivência destituído de ética do casal Thénardier, muito bem interpretados por Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen. Ah! E como não se encantar e emocionar com o pequeno Gavroche (Daniel Huttlestone)? Todos estes personagens constroem uma trama repleta de suspense, drama, amor, compaixão, tristeza e furor revolucionário.

O cenário não poderia ser melhor: a França Revolucionária. Repressão do Estado odiado e temido pelos cidadãos, miseráveis que se arrastam pelas ruas a espera do sopro da morte, aquele que finalmente trará o fim aquele sofrimento. Aos com melhor sorte, ainda existe a exploração e humilhações das fábricas, ou quem sabe a prostituição. Some se a este cenário as ideias revolucionárias que floresciam e ainda, os jovens com ansiosos por mudança, mesmo que tenham que pagar com a própria vida. Temos então uma bela história!  

Abaixo um aperitivo: a bela canção “Do You Hear The People Sing

Áudio




Título original: (Les Misérables)
Lançamento: 2012, (Reino Unido)
Direção: Tom Hooper
Atores: Hugh Jackman, Russell Crowe, Anne Hathaway, Amanda Seyfried, Sacha Baron Cohen, Helena Bonham Carter, Eddie Redmayne, Aaron Tveit, Samantha Barks, Daniel Huttlestone 
Duração: 158 min.
Gênero: Musical