“ Somos como pássaros num galho de árvore, não
sabemos se vamos partir” (Celestin)
Nós, ocidentais fundados em um modelo de
democracia burguesa liberal, tendemos a criticar abertamente Estados Teocráticos. Argumentos e fatos não faltam para justificar a crítica a este
modelo de Estado e Governo, vide a imagem que montamos de alguns países
do Oriente Médio e do Afeganistão (o governado pelo Taliban). A sensibilidade da questão está exatamente na
necessária limitação de poderes do qual
nenhum Estado pode ser dispensado, mesmo que o desejo dos seus dirigentes seja
justamente o contrário. Ou seja, se quando um grupo detêm o maquinário estatal
já é perigoso para o cidadão, no instante em que se ausentam os limites para este Estado, imagine então
se este for fundado na religião? Pois, como já disse Blaise Pascal:
“os homens jamais fazem o mal tão completamente e com tanta alegria como quando
o fazem a partir de uma convicção religiosa”.
O filme Homens e Deuses não trata de um Estado teocrático, mas de uma
guerra civil e de diferentes interpretações que se formulam dos escritos
religiosos. É inspirados em fatos reais ocorridos na Argélia em 1996, quando
estourou uma brutal guerra civil. De um lado o governo, do outro, rebeldes islâmicos, e entre eles, a
população civil.
Christian (Lambert Wilson) é o
líder de um grupo de oito monges que atuavam junto a uma comunidade no interior
da Argélia. Orações, estudo religioso, assistência médica a comunidade e uma
convivência harmoniosa com religiosos muçulmanos, este era o cotidiano dos
monges, pelo menos até o conflito armado. A partir deste momento, Christian e
seus irmãos religiosos estavam em perigo, como todos os estrangeiros e civis daquele
país.
A angustia do grupo neste
instante advêm da necessidade de ter que decidir entre abandonar a comunidade e
voltar para França, salvando suas vidas, ou seguir a missão que abraçaram e
permanecer ali, mesmo que esta opção custe suas vidas. Acompanhamos, cena a cena, a aflição daqueles
homens no caminhar em direção a difícil decisão. Ao mesmo tempo em que
percebemos como cenários tão distintos podem ser construídos a partir da
leitura e interpretação de mensagens, que a princípio, deveriam pregar apenas o
amor, mas que a partir de alguns, servem como fundamentação para ações maléficas.
Vencedor do Grande prêmio de
Cannes de 2010, este é um filme para ver e não esquecer jamais.
Título original:
(Des Hommes et des Dieux)
Lançamento:
2010 (França)
Direção:
Xavier Beauvois
Atores:
Lambert Wilson, Michael Lonsdale, Olivier Rabourdin, Philippe Laudenbach.
Duração:
122 min
Gênero:
Drama
Muito bom o texto. Não vi o filme, ainda. Vou buscá-lo. Um abraço...
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