- Cuidado. Sabe que os da periferia não tem compaixão. (Antoine)
- É isso mesmo. É exatamente o que eu quero. Nenhuma compaixão. (Philippe)
Assistir um filme no cinema não é simplesmente sentar na poltrona e ver, existe todo um meticuloso e demorado ritual. Tudo pode começar com aquela despretensiosa indicação feita por um colega, ás vezes nem levada a sério naquele instante, ou então uma busca nos sites e blogs especializados, sem esquecer-se de esquivar-se dos spoiles. Ir ao cinema e apostar na sorte também pode ser uma opção: escolher por meio do cartaz mais atraente, ou dos atores mais renomados, ou simplesmente aquele que está de acordo com sua disponibilidade de tempo.
Enfrentar a fila do ingresso, ver alguns rostos conhecidos de outras sessões, outros nem tanto. Irritar-se com o cara da sua frente que resolve escolher o filme exatamente na hora que chega ao caixa, provocando um enorme atraso. Torcer para que aqueles adolescentes barulhentos não tenham escolhido o mesmo filme que você. Saudar a já conhecida vendedora, escolher ou não a pipoca, que ás vezes já desapareceu na metade dos trailers.
Mais uma fila para entrar na sala mágica, avistar aquela telona até então fria e sem vida, mas que em instantes poderá fazer você chorar, sorrir, se irritar através do frenético balé de luzes coloridas. E então escolhemos atentamente a poltrona mais adequada, sempre considerando os mesmos requisitos: melhor visão da tela mágica, maior distancia dos conversadores que confundem sala de cinema com barzinho lotado, aonde é preciso gritar para ser ouvido.
Sentamos - imprescindível que estejamos bem acompanhados -, nos acomodamos, as luzes se apagam lentamente nos avisando que o passeio vai começar. Como pequenos aperitivos apreciamos os trailers, as pequenas amostras das nossas próximas viagens, até que finalmente nos deparamos com a criativa animação da produtora do filme, é o sinal... vai começar, silêncio!
Ás vezes – como é o caso do filme Intocáveis -o capítulo final desta jornada se dá com você saindo da sala de projeção estampando um sorriso bobo no rosto, como se tivesse acordado de um sonho bom. E quando isso acontece, o sonho, quer dizer, o filme, demora a abandonar sua memória. Horas, dias e ás vezes semanas com cenas e diálogos sendo revisitados a todo instante.
O que mais me impressionou em Intocáveis foi exatamente a alegria, a felicidade contida nele. Seus personagens possuíam inúmeros elementos para se dizerem azarados e infelizes, contudo agiam de modo oposto. Em uma das primeiras cenas, ao som da música “September”, esta perspectiva logo é apontada: a felicidade imunda o público.
Apesar de tudo “nunca foi um dia nublado”, conforme diz a música. Philippe (François Cluzet),rico, branco, está tetraplégico e nem mesmo toda a sua fortuna seria capaz de trazer de volta a liberdade que sentia na época em que saltava de parapente, ou fazer retornar o grande amor de sua vida. Agora dependia de outras pessoas: comer, tomar banho, escrever uma carta, tudo que pensasse em fazer teria que ser por meio de outras pessoas.
Driss (Omar Sy), por sua vez, era um negro imigrante senegalês, pobre, vivia na periferia da França e enfrentava toda a sorte de problemas: prisão, assalto, drogas, desemprego, etc. Ás vezes se contentava com o seguro desemprego oferecido pelo governo.
Suas vidas se cruzam quando Philippe resolve contratar Driss para ser seu ajudante, seu cuidador. O ricaço não queria mais compaixão e o jeito desleixado, quase indiferente de Driss parecia ser uma boa aposta, mesmo que arriscada.
Apesar de pairar sobre temas propícios para uma abordagem melodramática ou até mesmo recheada de clichês, como imigração, preconceito, paralisia, diferença de classes, etc. ainda assim, Intocáveis não percorreu por este tedioso caminho, pelo contrário. Uma saudável mistura de comédia e drama em que a amizade ocupou o papel central: nada de discurso contra o preconceito ou xenofobia, muito menos mensagens de auto ajuda, pelo menos não explicitamente.
Baseado no livro “O segundo suspiro”, de Philippe Pozzo di Borgo, que por sua vez foi inspirado em uma história real, Intocáveis é sucesso de bilheteria na França, e com toda certeza está entre os melhores filmes do ano.
- É isso mesmo. É exatamente o que eu quero. Nenhuma compaixão. (Philippe)
Assistir um filme no cinema não é simplesmente sentar na poltrona e ver, existe todo um meticuloso e demorado ritual. Tudo pode começar com aquela despretensiosa indicação feita por um colega, ás vezes nem levada a sério naquele instante, ou então uma busca nos sites e blogs especializados, sem esquecer-se de esquivar-se dos spoiles. Ir ao cinema e apostar na sorte também pode ser uma opção: escolher por meio do cartaz mais atraente, ou dos atores mais renomados, ou simplesmente aquele que está de acordo com sua disponibilidade de tempo.
Enfrentar a fila do ingresso, ver alguns rostos conhecidos de outras sessões, outros nem tanto. Irritar-se com o cara da sua frente que resolve escolher o filme exatamente na hora que chega ao caixa, provocando um enorme atraso. Torcer para que aqueles adolescentes barulhentos não tenham escolhido o mesmo filme que você. Saudar a já conhecida vendedora, escolher ou não a pipoca, que ás vezes já desapareceu na metade dos trailers.
Mais uma fila para entrar na sala mágica, avistar aquela telona até então fria e sem vida, mas que em instantes poderá fazer você chorar, sorrir, se irritar através do frenético balé de luzes coloridas. E então escolhemos atentamente a poltrona mais adequada, sempre considerando os mesmos requisitos: melhor visão da tela mágica, maior distancia dos conversadores que confundem sala de cinema com barzinho lotado, aonde é preciso gritar para ser ouvido.
Sentamos - imprescindível que estejamos bem acompanhados -, nos acomodamos, as luzes se apagam lentamente nos avisando que o passeio vai começar. Como pequenos aperitivos apreciamos os trailers, as pequenas amostras das nossas próximas viagens, até que finalmente nos deparamos com a criativa animação da produtora do filme, é o sinal... vai começar, silêncio!
Ás vezes – como é o caso do filme Intocáveis -o capítulo final desta jornada se dá com você saindo da sala de projeção estampando um sorriso bobo no rosto, como se tivesse acordado de um sonho bom. E quando isso acontece, o sonho, quer dizer, o filme, demora a abandonar sua memória. Horas, dias e ás vezes semanas com cenas e diálogos sendo revisitados a todo instante.
O que mais me impressionou em Intocáveis foi exatamente a alegria, a felicidade contida nele. Seus personagens possuíam inúmeros elementos para se dizerem azarados e infelizes, contudo agiam de modo oposto. Em uma das primeiras cenas, ao som da música “September”, esta perspectiva logo é apontada: a felicidade imunda o público.
“Nossos corações estavam tocando
E almas cantavam
Você se lembra
Nunca foi um dia nublado”
E almas cantavam
Você se lembra
Nunca foi um dia nublado”
Apesar de tudo “nunca foi um dia nublado”, conforme diz a música. Philippe (François Cluzet),rico, branco, está tetraplégico e nem mesmo toda a sua fortuna seria capaz de trazer de volta a liberdade que sentia na época em que saltava de parapente, ou fazer retornar o grande amor de sua vida. Agora dependia de outras pessoas: comer, tomar banho, escrever uma carta, tudo que pensasse em fazer teria que ser por meio de outras pessoas.
Driss (Omar Sy), por sua vez, era um negro imigrante senegalês, pobre, vivia na periferia da França e enfrentava toda a sorte de problemas: prisão, assalto, drogas, desemprego, etc. Ás vezes se contentava com o seguro desemprego oferecido pelo governo.
Suas vidas se cruzam quando Philippe resolve contratar Driss para ser seu ajudante, seu cuidador. O ricaço não queria mais compaixão e o jeito desleixado, quase indiferente de Driss parecia ser uma boa aposta, mesmo que arriscada.
Apesar de pairar sobre temas propícios para uma abordagem melodramática ou até mesmo recheada de clichês, como imigração, preconceito, paralisia, diferença de classes, etc. ainda assim, Intocáveis não percorreu por este tedioso caminho, pelo contrário. Uma saudável mistura de comédia e drama em que a amizade ocupou o papel central: nada de discurso contra o preconceito ou xenofobia, muito menos mensagens de auto ajuda, pelo menos não explicitamente.
Baseado no livro “O segundo suspiro”, de Philippe Pozzo di Borgo, que por sua vez foi inspirado em uma história real, Intocáveis é sucesso de bilheteria na França, e com toda certeza está entre os melhores filmes do ano.
Título original: (Intocáveis - Intouchables)
Lançamento: 2012 (França)
Direção: Olivier Nakache / Eric Toledano
Atores: François Cluzet, Omar Sy, Anne Le Ny, Audrey Fleurot
Duração: 112 min
Gênero: Comédia, Drama
Lançamento: 2012 (França)
Direção: Olivier Nakache / Eric Toledano
Atores: François Cluzet, Omar Sy, Anne Le Ny, Audrey Fleurot
Duração: 112 min
Gênero: Comédia, Drama
Finalmente encontrei um blog de cinema interessante que não e enfadonho cheio de textos longos de um bando de críticos pseudointelectuais
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