Vinte e quatro anos atrás as
personagens do filme já reclamavam do silêncio velado em torno da tortura
promovida pelo governo militar. Imagine hoje? Atualmente a tortura é um tema
relegado aos livros escolares, e pasmem, de modo superficial. Contrariando os
ensinamentos da História que nos alerta sempre a não esquecer os horrores do
passado.
Felizmente a Comissão da Verdade
é uma tentativa de retomar estas memórias. Uma iniciativa do governo brasileiro, por força do Corte Interamericana de Direitos Humanos, de pesquisar os inúmeros casos envolvendo os abuso dos militares e guerrilheiros nestes anos de chumbo. Mesmo que esta
Comissão não tenha caráter punitivo - em virtude da famigerada Lei da Anistia,
de 1979, que impede que os acusados sejam julgados pelos crimes daquela época,
infelizmente – ainda assim, é um avanço para a preservação da memória nacional. Até mesmo porque os arquivos estarão abertos aos pesquisadores, assim que a
Comissão finalizar seu trabalho.
O filme dirigido por Lúcia Murat
traz a tona oito comoventes histórias. São relatos de mulheres que tiveram suas
vidas mudadas drasticamente após serem presas e torturadas pelos militares durante
a luta armada. Estas mulheres, que após anos de cadeia e tortura, tornaram se
médicas, filosofas historiadoras, donas de casa, etc. escancaram suas feridas
e traumas, muitos que ainda as fazem perderem o sono.
Traumas que levaram algumas sobreviventes
a ultrapassarem a barreira da lucidez, tamanha a dimensão e intensidade das
torturas física e psicológicas. Mortes de companheiros na cadeia, em combate,
suicídio, morte ou nascimento de filhos na cadeia, tortura de familiares, uso
de insetos, fotos dos companheiros decapitados, pau de arara, choques, exílio,
etc. Fazer sofrer era a ordem, a morte era uma consequência, se possível, a ser
adiada ao máximo, pois assim a tortura poderia se prolongar ainda mais. Era
assim que pensavam os torturadores.
Impossível começar a assistir
aqueles depoimentos e histórias reais e não se emocionar, não se espantar como
o Estado pode se transformar em uma máquina tão mortal e cruel, aliás, como o
homem, sob o pretexto de estar a serviço do Estado, pode ser tão cruel. Filmes
como estes também servem para nos mostrar que o devemos estar sempre atento
quanto as investidas do Leviatã contra
nossa liberdade e dignidade.
Aos que foram torturados e
romperam a barreira da sanidade.
Título original: ( Que Bom Te Ver Viva)
Lançamento: 1989, (Brasil)
Direção: Lucia murat
Atores: Irene Ravache
Duração: 100 min.
Gênero: Documentário
Acabei hoje de manhã de ler O Diário de Anne Frank....tem tortura maior do que a dela? talvez.
ResponderExcluirBelo post.
abs
É um nacional das antigas, da época que o roteiro não girava em torno de mulheres fáceis e homens que só falam asneira!
ResponderExcluirParece um filme realmente forte. Ainda não assisti, nem posso garantir assistir por enquanto. São tantos filmes que fico doida! Mas é sempre bom ler críticas assim que trazem à luz filmes que de outra forma eu provavelmente não tomaria conhecimento.
ResponderExcluirOlá, Marcos. Que belo documentário sobre o período de chumbo no Brasil. Confesso que desconhecia este trabalho. Irei conferí-lo, sim, em breve. Valeu pela dica, Marcos.
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