sábado, 23 de abril de 2011

Katyn

Não faz diferença se são soviéticos ou alemães. Ninguém ressuscitará os mortos. Temos que sobreviver, perdoar. Temos que viver.   (Jerzy)


Foram inúmeras as tragédias da Segunda Guerra Mundial: Holocausto, bombardeio em Londres, massacre da população camponesa soviética, da juventude alemã, bombas atômicas no Japão, massacre dos oficiais poloneses, etc. Mas, com exceção do massacre dos oficiais poloneses, os outros trágicos acontecimentos citados envolviam sujeitos que estavam de um lado ou de outro do front, não que isto sirva para justificar as mortes. Ou melhor, os Poloneses foram invadidos, mortos, perseguidos e não sabiam de qual lado do conflito estavam. Sabiam apenas que estavam na direção de duas sanguinárias ditaduras: nazistas e comunistas. A cena inicial de Katyn é perfeita para demonstrar esta situação polonesa: o ano é 1939, início da Segunda Guerra Mundial, dois grupos de refugiados se encontram em uma ponte, desesperados, levando tudo o que poderiam carregar, hesitam diante de um impasse: de um lado da ponte se aproximavam os invasores alemães, e do outro, as tropas soviéticas.

Esta obra prima do cinema, dirigida por Andrzej Wajda, é um verdadeiro exemplo de análise de como se constrói um Discurso Historico. O filme retrata os acontecimentos que envolveram a invasão soviética e alemã ao território polonês, logo no início da guerra, enquanto ainda perdurava o Tratado de Não Agressão entre Stalin e Hitler. A invasão foi rápida e sem resistência por parte do exército nativo. Os soldados foram libertados, porém, os oficiais poloneses ficaram presos aguardando seu destino. Muitos acreditavam que seriam incorporados ao exército soviético, visto que, pensavam ser importantes  no tabuleiro estratégico daquela iminente guerra, de qualquer forma, por serem oficiais, não acreditavam que lhes poderiam acontecer o pior.

Distante do campo de prisioneiros, o filme nos mostra a angústia de três mulheres que não tinham notícias de seus maridos. Cada comentário nas ruas, cada lista de prisioneiros soltos, qualquer informação fazia renascer a esperança de que podiam vê-los novamente, porém, a medida que o tempo passava elas também sabiam que as chances de estarem vivos era ainda menor. Como mostra o filme, não fazia parte do plano stalinista deixar os oficiais poloneses vivos, parte da elite intelectual daquele país desapareceria em enormes valas comuns. Vinte mil foram fuzilados, sendo doze mil na floresta de Katyn. Este é o fato histórico, muito bem representado no filme, o que vem a seguir é a construção de verdades. O tempo passou e as famílias, apesar da esperança, percebiam que dificilmente receberiam seus homens de volta, em nenhum momento o exército soviético revelou o que aconteceu com os oficiais poloneses. Esta situação era ainda pior, pois enquanto a Polônia estava ocupada por tropas soviéticas, não se discutia e não se apurava este fato, aliás, os soviéticos acusavam os alemães de terem eliminados os oficiais poloneses. Quem discordasse desta versão oficial seria perseguido. Inclusive,  o pai de Wajda, o diretor do filme, foi um dos mortos na floresta. A ocupação soviética, o silêncio forçado, a falsificação da verdade, duraram de 1939, época da invasão, até início dos anos 90, após o desmoronamento da União Soviética.

Até hoje este triste fato é uma ferida ainda não cicatrizada, mais um dos muitos que não cansam de expor os horrores acumulados pela Segunda Guerra. Ironicamente, em abril de 2010, o avião que levava o presidente da Polônia, Lech Kaczynski e algun dos seus líderes civis e militares, caiu em viagem a Rússia, e todos morreram. O objetivo da viagem era exatamente para participar de um evento que relembraria o 70° aniversário do massacre exposto neste filme.


Título original: (Katyn)
Lançamento: 2007 (Polônia)
Direção: Andrzej Wajda
Atores:Artur Zmijewski, Maja Ostaszewska, Andrzej Chyra, Danuta Stenka.
Duração: 118 min
Gênero: Drama

Um comentário:

  1. Assisti há algum tempo um programa no History Channel sobre o Massacre de Katyn e fiquei curioso em ver o filme, mas ainda não tive oportunidade.

    Estou linkando seu endereço no meu blog.

    Abraço

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