“Quando tento caminhar, sinto um
fio de lã, cinza e grosso, enrolado às minhas pernas” (Justine)
Lars Von Trier é um diretor que
valoriza como poucos nosso tempo, suas obras são verdadeiros tratados poéticos,
psicanalíticos e filosóficos. Raros são os diretores que conseguem dizer tanto
em tão pouco tempo, contar várias histórias em uma só. Se Anticristo já foi um
filme chocante e revelador, Melancolia
consegue ir alem. Desta vez é mais que triste ou assustador, é extremamente realista, apocalíptico e humano.
Casar com alguém especial em uma
bela cerimônia talvez seja o sonho da maioria das mulheres, mas Justine
(Kirsten Dunst) não estava feliz. Sua família estava presente, seu noivo a
amava, a cerimônia estava sendo realizada em um bonito palácio, acabara de ser
promovida ao cargo de diretora de artes no trabalho, mas, ainda assim, Justine não estava feliz. Quem sabe Gaby
(Charlotte Rampling), sua mãe que não fazia questão de esconder o pessimismo e mal humor, saberia dizer o porquê da
estranha tristeza de Justine naquele instante que deveria ser o mais feliz da sua vida.
Um prólogo repleto de belas imagens, prática comum do diretor, seguido de um primeiro capítulo que traz à
tona a superficialidade das relações e alegrias humanas, tão bem retratadas em
Justine, e por fim, chegamos ao segundo capítulo. Aqui é Claire (Charlotte
Gainsbourg) que apresenta seus dramas, ás vezes os mesmos que também nos
atormentam diariamente. Claire está temerosa quanto a perigosa proximidade do planeta Melancolia, o
Viajante. Segundo os cientistas, e seu marido John (Kiefer Sutherland), o planeta
apenas chegará próximo á Terra e não trará risco aos humanos, não passando de
um grande evento cósmico. Revirando sites e informações catastróficas, Claire então
se desespera, diferentemente de Justine que sempre se matem calma, ou do
pequeno Leo (Cameron Spurr) ávido para apreciar a chegada do Melancolia.
O que você faz diante da iminente
catástrofe, diante do fim? Se desespera, se conforma, fechar os olhos e finge que está tudo
bem? Quais são seus mecanismos de defesa?
Interpretação, trilha sonora fotografia
e roteiro são os pontos fortes do filme, mas não superam o maior destaque
das obras de Lars Von Trier: a abertura para a reflexão. Definitivamente um dos melhores
filmes de do ano de 2011.
Só nos resta agora esperar ansiosamente
pela próximo feito do diretor dinamarquês.
Título original:
(Melancholia)
Lançamento: 2011 (Dinamarca,
França, Alemanha, Itália, Suécia)
Direção: Lars von Trier
Atores: Kirsten Dunst, Charlotte Gainsbourg,
Kiefer Sutherland, Charlotte Rampling, Cameron Spurr
Duração: 130 min
Gênero: Ficção Científica
Você definiu perfeitamente Lars-von-Trier.
ResponderExcluirAcredito que meu estilo prefira o choque de O Anti-Cristo. Mas, amei Melancolia e seu final poético, na minha visão.
Ótimo texto, Márcio, e ótimo filme mesmo. Pena que com as declarações do autor, passou distante do Oscar.
ResponderExcluir