domingo, 19 de fevereiro de 2012

Melancolia


“Quando tento caminhar, sinto um fio de lã, cinza e grosso, enrolado às minhas pernas” (Justine)


Lars Von Trier é um diretor que valoriza como poucos nosso tempo, suas obras são verdadeiros tratados poéticos, psicanalíticos e filosóficos. Raros são os diretores que conseguem dizer tanto em tão pouco tempo, contar várias histórias em uma só. Se Anticristo já foi um filme chocante e revelador, Melancolia consegue ir alem. Desta vez é mais que triste ou assustador, é extremamente realista, apocalíptico  e humano.

Casar com alguém especial em uma bela cerimônia talvez seja o sonho da maioria das mulheres, mas Justine (Kirsten Dunst) não estava feliz. Sua família estava presente, seu noivo a amava, a cerimônia estava sendo realizada em um bonito palácio, acabara de ser promovida ao cargo de diretora de artes no trabalho, mas, ainda assim, Justine não estava feliz. Quem sabe Gaby (Charlotte Rampling), sua mãe que não fazia questão de esconder o pessimismo e mal humor, saberia dizer o porquê da estranha tristeza de Justine naquele instante que deveria ser o mais feliz da sua vida.

Um prólogo repleto de belas imagens, prática comum do diretor, seguido de um primeiro capítulo que traz à tona a superficialidade das relações e alegrias humanas, tão bem retratadas em Justine, e por fim, chegamos ao segundo capítulo. Aqui é Claire (Charlotte Gainsbourg) que apresenta seus dramas, ás vezes os mesmos que também nos atormentam diariamente. Claire está temerosa quanto a perigosa proximidade do planeta Melancolia, o Viajante. Segundo os cientistas, e seu marido John (Kiefer Sutherland), o planeta apenas chegará próximo á Terra e não trará risco aos humanos, não passando de um grande evento cósmico. Revirando sites e informações catastróficas, Claire então se desespera, diferentemente de Justine que sempre se matem calma, ou do pequeno Leo (Cameron Spurr) ávido para apreciar a chegada do Melancolia.

O que você faz diante da iminente catástrofe, diante do fim? Se desespera, se conforma, fechar os olhos e finge que está tudo bem? Quais são seus mecanismos de defesa? 

Interpretação, trilha sonora fotografia e roteiro são os pontos fortes do filme, mas não superam o maior destaque das obras de Lars Von Trier: a abertura para a reflexão. Definitivamente um dos melhores filmes de do ano de 2011. 

Só nos resta agora esperar ansiosamente pela próximo feito do diretor dinamarquês.    



Título original: (Melancholia)
Lançamento: 2011 (Dinamarca, França, Alemanha, Itália, Suécia)
Direção: Lars von Trier
Atores: Kirsten Dunst, Charlotte Gainsbourg, Kiefer Sutherland, Charlotte Rampling, Cameron Spurr
Duração: 130 min
Gênero: Ficção Científica

2 comentários:

  1. Você definiu perfeitamente Lars-von-Trier.

    Acredito que meu estilo prefira o choque de O Anti-Cristo. Mas, amei Melancolia e seu final poético, na minha visão.

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  2. Ótimo texto, Márcio, e ótimo filme mesmo. Pena que com as declarações do autor, passou distante do Oscar.

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