-Está frio. (Sissy)
-Sissy, saia do meu quarto. Sissy,
saia do meu quarto. Da o fora daqui, porra! Sai! (Brandon)
O sexo, pelo menos entre nos
ocidentais, sempre foi um tema instável. De uma maneira bem superficial podemos
refazer a caminhada percorrida por este tema desde os gregos até os dias
atuais, e logo perceberemos que o sexo é um reflexo da cultura de um povo: a
maior liberalidade na Grécia Antiga, sobretudo no que tange ao sexo masculino.
Daí séculos mais tarde, durante a ascensão do cristianismo, é a Igreja Católica
que dita os princípios que devem guiar esta experiência transcendental.
A verdade é que ainda hoje,
séculos após a Igreja Católica perder o monopólio sobre o sexo, este permanece
sendo um tema recheado de tabus. Mesmo com a literatura Moderna, com as artes
renascentistas, com as revoluções culturais que puseram em choque as mentes
conservadoras ao longo do século passado, ainda assim, é verdade, o sexo não é
tema livre em qualquer roda de conhecidos.
Até mesmo o fato de um filme
apresentar um personagem em crise, por conta das suas práticas sexuais, de certa
forma representa o quanto o sexo ainda é um terreno movediço.
A beleza de uma obra cinematográfica
está em apresentar personagens complexos, com personalidades bem desenhadas em
torno de uma trama, mesmo que simples, mas com final indefinido. Então, é só
esperar que a capacidade de interpretação dos atores e o roteiro colaborem.
Neste caso Shame conseguiu juntar
perfeitamente estas peças.
Brandon (Michael Fassbender) ,
profissionalmente estabilizado, é um jovem viciado em sexo. Um sexo despossuído
de amor, carinho ou mesmo erotismo. É o sexo necessário, como o saciar da sede,
da fome. Apesar de buscar o sexo incontrolavelmente, um exercício não tão fácil,
pois precisa manter a aparência de um homem saudável e normal – aliás, o que
todos nós somos: absolutamente saudáveis e normais – Brandon não consegue manter
intimidade com as mulheres.
Se já não bastasse a dificuldade
de Brandon em manter esta vida secreta, para tornar as coisas ainda mais
complicadas, sua irmã Sissy (Carey Mulligan), sem ter para onde ir, lhe pede
moradia. Sissy também enfrenta seus monstros, e o mais grave deles é a carência
afetiva e a possessividade, o que torna a convivência entre os dois muito
conturbada. De forma bem equilibrada elementos mais sensíveis são adicionadas a
trama, o que deixa o espectador bastante apreensivo.
Em Meninos não Choram, muito bem interpretada por Hilary Swank , existe uma cena de estupro que penso ser uma das mais agressivas do cinema, porém, como sabemos, se tratava de uma violência sexual, de algo não consentido, logo, a reação horrorificada do público é justificada e até esperada. Já em Shame, temos a impressão que quase todas as cenas de sexo são constrangedoras, apesar de não serem fruto de estupros.
Título original: ( Winter´s Bone )
Lançamento:
2011, (EUA)
Direção:
Steve mcQueen
Atores:
Michael Fassbender, Carey Mulligan, James Badge Dale, Nicole Beharie, Alex
Manette, Robert Montano
Duração: 101 min.
Gênero: Drama