sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Flores Raras

- Eu quero que você fique aqui. (Lota)
- Mas e a Mary? (Bishop)


Bruno Barreto, o diretor, nos apresenta boas doses de poesia, belas atuações e uma leve e sarcástica crítica a reação popular ao Golpe Militar de 64. Baseado em fatos reais, o filme revela a breve passagem pelo Brasil da renomada poetiza norte-americana Elizabeth Bishop, a convite da amiga de juventude. A adaptação ao clima, alimentos e cultura não foi fácil, mas passada a crise inicial, não tardaria àquela amante das letras, apaixonar-se pelo Brasil, aliás, não só pelo Brasil. 

É uma trama amorosa que gira em torno de três personagens: Lota (Glória Pires), Elizabeth Bishop (Miranda Otto) e Mary (Tracy Middendorf). Nelas encontramos os elementos presentes em quase toda história de amor: paixão, conquista, concessão, ciúmes, domínio, alegrias, tristeza... 

Além disso, é possível destacar ainda três elementos imperdíveis no filme: o primeiro é evolução de Lota, a personagem de Glória Pires: suas primeiras aparições nos fazem perceber imediatamente uma mulher que não foge ao trabalho braçal, prática, quase bruta, ao mesmo tempo em que demonstra intensa intimidade com a arte. O que interliga a Lota das primeiras cenas, quase irreconhecível frente àquela que surge nas últimas cenas, quem sabe seja o amor ou a paixão. 

A poesia de Bishop, por sua vez, é um convite, um componente imprescindível para a construção da atmosfera que envolve as três personagens, e suas distintas personalidades: 

(...)

A arte de perder não é nenhum mistério. 
Perdi duas cidades lindas. E um império 
Que era meu, dois rios, e mais um continente. 
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério

(...)
One Art (Tradução de Paulo Henriques Brito)

Por fim, o terceiro elemento surge de forma mais tímida. O período politicamente conturbado da década de 60 também é percebido pela poetiza, mesmo que por meio de um grande estranhamento. Relata a Bishop: “Quando Kennedy foi assassinato, nós (o povo norte-americano) sofremos. Vocês tiveram um Golpe Militar, que lhes tirou a liberdade, e foram jogar futebol na praia. Eu vi da janela”. Seria apenas um limitado olhar estrangeiro ou alguém que aponta o frequente teatro da participação política da população nos momentos importantes da História do país?

Flores Raras: amor, política e diferenças culturais trazidos a tona por duas excelentes atrizes.


Título original: (Flores Raras)
Lançamento: 2013, (Brasil)
Direção: Bruno Barreto
Atores: Glória Pires, Miranda Otto, Tracy Middendorf, Marcello Airoldi, Treat Williams, Lola Kirke
Duração: 118 min.
Gênero: Drama.

domingo, 6 de outubro de 2013

Elysium


“Vou precisar de alguém para fazer um trabalho pra mim (...) pegue um babaca de Elysium, sequestramos ele, esquece o carro, esquece a grana, o relógio, o que você vai pegar é informação ... orgânica, direto da cabeça dele...” ( Spider)

Edward Snodem, Julian Assenge e quem sabe Kim Schmitz (dono do site Megaupload) possuem em comum, entre outras coisas, o fato de cometerem “crimes” relacionados a este novo mundo tecnológico-informativo. E, claro, resolveram enfrentar Estados e corporações muito poderosas, independentemente de quais foram seus verdadeiros motivos (econômicos, políticos, ideológicos, etc). Estas três figuras, que um dia poderão figurar nos livros de História, seja como heróis ou terroristas, para mim, estão muito próximos do personagem Spider (Wagner Moura). 

Spider, ao contrário de Max (Matt Damon) ou Frei (Alice Braga), parecia não ter interesses pessoais em jogo quando subia naquelas naves aparentemente arcaicas frente ao poderio dos administradores da estação espacial Elisyum. Quem sabe estivesse agindo por um ideal, uma espécie de herói-hacker-libertário. Mesmo que não seja possível fazer esta interpretação a partir de suas falas: superficiais e muito pouco aproveitadas. Por outro lado, exigir uma maior fundamentação político-filosófica deste personagem talvez seja exagero, principalmente em se tratando de um filme apenas comercial e de um papel que seria representado por um desconhecido latino-americano. É esperar demais de Hollywood!

E, além da possibilidade perdida de explorar um personagem, o filme Elysium nos traz também um pouco do mesmo de sempre: em um futuro não tão distante (ano de 2159) a situação social do planeta é tão caótica que uma certa elite resolveu construir uma estação espacial com todas as regalias possíveis, para quem pode pagar, é claro. Enquanto isso, aqui, na Terra, a população pobre (que fala espanhol, diga se de passagem) sofre com abuso de autoridade da força policial, burocracia do serviço público e com a exploração desmedida nas fábricas. 

Elysium, ao ser visto no céu do planeta Terra, poderia ser apenas um sonho de consumo para alguns, ás vezes cultivado desde a infância, mas para outros era questão de sobrevivência, pois ela possui a tecnologia necessária para curar quase todas as perigosas doenças que conhecemos. E este já era um forte motivo que justificaria arriscar a vida para tentar invadir aquela estação espacial com tanta vontade e esperança. Outros tentam invadi-lá simplesmente porque não achavam justo toda aquela desigualdade social.

Alguns comentaristas da blogosfera dizem, e com razão, que os roteiristas não precisariam usar o subterfúgio de apontar aquela realidade para o distante ano de 2159, pois os fatos e condições mostradas na telona são facilmente encontrados nos anos atuais. O cenário, por exemplo, não precisou ser montado artificialmente, bastou filmar as favelas de muitos países. 

Elysium é um filme pouco ambicioso, mas nos oferece interessantes brechas para a reflexão, que, aliás, é uma características dos longas de Neil Blomkamp, que também dirigiu o bom Distrito 9


Título original: ( Elysium )
Lançamento: 2013, (EUA)
Direção: Neil Blomkamp
Atores: Matt Damon, Jodie Foster, Sharlto Copley, Wagner Moura, Alice Braga
Duração: 109 min.
Gênero: Ação