sábado, 29 de dezembro de 2012

Cosmopolis


Eu queria que você me curasse, que me salvasse. Queria que você me salvasse. (Benno Levin)


Coisas de cinéfilo blogueiro: ontem, enquanto assistia O Inverno da Alma, pensava qual filme deveria postar hoje, data de comemoração dos dois anos do blog. Por sorte este pensamento não me impediu de aproveitar a boa performance de Jennifer Lawrence. Até mesmo porque opções de bons filmes não faltariam para marcar esta data.

Começamos lá atrás com o ótimo filme de Fernando Meirelles, Ensaio Sobre a Cegueira, aliás, vi recentemente 360, do mesmo diretor e em breve teremos algumas linhas por aqui. Duas centenas de comentários depois, após um ano, chegamos ao As Loucuras de Dick e Jane, uma comédia que ocupa um espaço especial na minha memória. E então embarcamos no segundo ano de empreitada, não de forma tão assídua quanto desejava, mas presente.

Cosmopolis foi escolhido não por ser simplesmente um dos melhores filmes do ano, mas porque é denso, possui ótimos diálogos e nos fazem refletir sobre esta geração que nos cerca e que ainda tentamos definir. Quando um filme emociona ou nos leva para longe da poltrona, quando nos proporciona conexões com diferentes aspectos do mundo real, então este filme merece um elogio.

X, Y, Z, Alfa, etc. as definições não são poucas para as últimas gerações. E neste caso até que são úteis, condensam certas características comuns a pequenos grupos que são destacados para representar uma época. Os nascidos entre os anos oitenta e dois mil, por exemplo, são a geração Y. Caracterizados, entre outras coisas, por estarem sempre conectados. Já a geração Z faz referência a um grupo de pessoas cada vez mais preocupado com a conectividade com os demais indivíduos. Sem entrar no mérito e profundidade destes estudos, nem no risco de estereotipar indivíduos, podemos dizer que é o virtual que interliga estas gerações.

Gradativamente o mundo virtual foi tomando o espaço: amizades virtuais, dinheiro virtual, compras virtuais, fama virtual, consumo virtual, trabalho virtual, brincadeiras virtuais, sexo virtual, personalidade virtual, etc. Eric Packer (Robert Pattinson), um bilionário, que possui pouco contato com o mundo real, tenta cruzar a cidade de Nova Iorque para cortar o cabelo, talvez a última coisa que o conectou ao mundo de pedras e suor. Eric habita uma limusine, mas poderia ser um escritório no alto de um arranha céu. Conversa com assessores, técnicos, conselheiros, seguranças, são seus olhos, boca, ouvidos, sentem o mundo por ele.

Possui um esmero impecável para com a saúde, faz atividade física, tem apenas 6% de gordura corporal, faz exames médicos diariamente, porém não conseguiu “processar” o seguinte diagnóstico: “sua próstata é assimétrica”. Quem sabe seja porque Eric, como a maioria dos seus, busca padrões, regularidades. Seu mundo pode e deve ser explicado pela linguagem computacional.

Eric é jovem, mas seus assessores são mais jovens ainda, adolescentes que não olham nos olhos, inquietos, espertos, dominam os gráficos, os indicadores, a linguagem virtual. Mas o mundo lá fora fervilha, os ratos se multiplicam, podem se tornar a moeda oficial. Novamente a Anarquia, como uma fênix, semeia o caos, a fonte da mudança. E Eric não sabe como se movimentar neste mundo desconhecido, desprezível, inóspito e amargurado. O mundo dos não-virtuais, dos artistas revolucionários cuja as armas são ovos, frutas podres e tortas.

Mais uma vez é Paul Giamatti, na pele do desempregado ressentido Benno Levin, que vem coroar esta bela obra cinematográfica. Os diálogos entre Levin e Eric nos deixam paralisados. O cenário não poderia ser mais significativo: um velho quarto bagunçado, destruído, repleto de coisas velhas e sem utilidades, tal como o próprio Levin.

Cosmopolis, baseado no livro de Don De Lillo, é impecável, um filme para ser assistido mais de uma vez.


Título original: (Cosmopolis)
Lançamento: 2012 (Canadá, França, Portugal, Itália)
Direção: David Cronenberg
Atores: Robert Pattinson, Kevin Durand, Sarah Gadon, Juliette Binoche, Jay Baruchel, Samantha Morton, Mathieu Amalric, Paul Giamatti
Duração: 109 min
Gênero: Drama

9 comentários:

  1. Pois é, agora descobri que hoje ainda são 29, ou seja, o aniversário do blog ainda é amanhã! rsrsrs

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  2. Como não sei conseguirei passar por aqui amanhã, já adianto hoje os parabéns pelo aniversário.

    Abraço

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  3. Fiquei curioso para assistir o filme depois de ler a sua resenha, Marcos.

    Parabéns pelo niver e um feliz ano novo!!

    http://monteolimpoblog.blogspot.com.br/

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  4. Li o texto, mas não consegui comentar dando os parabéns! Mas já que é hoje PARABÉNS pelo blog!!! Espero chegar longe com a mesma disposição que você está!

    Abraço!

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  5. Robert Pattinson prova que tem talento, mas claro que David Cronemberg deu um jeito de complicar tudo. Mesmo assim é um filme interessante. Feliz ano novo.

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    1. Feliz ano novo também Gilberto. Dizem que este foi o papel ideal para Pattinson, pois não exigia muita emoção, rsrsrs

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